GALUNION – Consultoria em Foodservice

O “clean label” no foodservice, por Renata Shimizu

Você já ouviu falar de “clean label”? Este é o assunto do artigo da consultora da Galunion Renata Shimizu. Com quase 20 anos de experiência no mercado de foodservice, Renata lidera a gestão de projetos técnicos de desenvolvimento de produtos. Também estuda soluções no foodservice para melhorar a qualidade alimentar dos consumidores. Confira o seu texto para o nosso blog!

O “clean label” no foodservice, por Renata Shimizu

Hoje vemos muitos consumidores de alimentos imersos num mar de dúvidas e conflitos em relação ao que comer, ao que faz bem, ao que faz mal. São pouco conscientes dos benefícios, riscos e impactos existentes por trás das suas escolhas alimentares. Ou seja, não sabem como estas podem afetar positiva ou negativamente a sua própria saúde, o meio ambiente e a sustentabilidade do planeta.

Quando buscam esclarecimento sobre a qualidade dos alimentos, se deparam com inúmeras fontes disseminadoras de informações e opiniões. Por exemplo, internet, TV, influenciadores em programas de saúde e gastronomia, publicidade, redes sociais, APPs, médicos e nutricionistas, documentários etc.

No entanto, estas fontes trazem conteúdos por vezes duvidosos e conflituosos. Isso aumenta ainda mais as incertezas. A ciência, por outro lado, também não tem conseguido suprir essa lacuna de conhecimento. Especialistas declaram que as questões ambientais e de saúde são complexas e multidimensionais, envolvendo atores sociais, sentimentos e crenças. Ou seja, as pesquisas atuais somente evidenciam riscos e reflexões, mas não conseguem comprovar tudo.

Em particular, os rótulos dos alimentos têm se apresentado cada vez mais poluídos de dados para atender a todos os requisitos exigidos por lei. Assim, tornam-se um poço de informações: alegações publicitárias, símbolos, certificados, lista de ingredientes, tabelas nutricionais.

E assim, os consumidores seguem tendo que fazer suas escolhas alimentares influenciadas por este universo de nomenclaturas técnicas, muitas vezes “fake news”, cercados de dúvidas e incertezas. Por um lado, procuram se esquivar de riscos ou fantasias, por outro, parecem pegar um caminho de volta às origens, manifestando um desejo pelo resgate dos valores e segurança do alimento natural.

As novidades e o “clean label”

Neste contexto, novas categorias de produtos têm surgido no mercado, em especial, os alimentos denominados “clean label”. Este termo utilizado pela indústria ainda não tem definição consensual e nem regulamentação no segmento. Mas compreende os produtos alimentícios que contêm ingredientes naturais, familiares, simples e fáceis de serem reconhecidos, entendidos e pronunciados por qualquer leigo. Assim, nada de ingredientes artificiais ou químicos sintéticos na formulação!

Alguns exemplos de alimentos “clean label” encontrados nos supermercados, e que são ingredientes no foodservice:

  • carne bovina sem hormônio
  • frango sem antibiótico
  • ovos de galinha caipira
  • peixe de pesca selvagem
  • alimentos livres de aditivos sintéticos
  • alimentos orgânicos
  • alimentos livres de OGM (organismos geneticamente modificados).

“Clean label” e o foodservice nos Estados Unidos

Nos EUA, o foodservice tem adotado diversas iniciativas em “clean label” e enfatizado nos cardápios dos restaurantes, comunicando-se ativamente com o consumidor. É o que mostra a pesquisa “Consumer & restaurant menu trends: the clean label influence” realizada pela Technomic em 2017, onde é importante verificar o uso dos adjetivos que remetem ao “clean label”, como nos exemplos abaixo:

Fonte: Technomic, Inc. “Consumer & restaurant menu trends: the clean label influence”, 2017[/caption]

Grandes redes de fast food, casual dining, supermercados, refeições coletivas, cafeterias, parques temáticos também vêm enquadrando seus insumos dentro de uma estratégia de “clean label”. Por exemplo, a rede PANERA BREAD, que em 2017 concluiu a sua meta e hoje possui menu 100% clean. Da mesma forma, a PIZZA HUT, que removeu os preservativos artificiais BHA e BHT de todas as carnes, os antibióticos das aves e todos os preservativos do queijo.

A mesma pesquisa (Technomic, 2017) revelou que 86% dos consumidores americanos gostariam que os restaurantes oferecessem mais transparência a respeito dos alimentos que compõem os pratos. De alguma maneira, então, vemos que os anseios dos consumidores por alimentos mais naturais estão sendo ouvidos e atendidos por algumas marcas nos EUA.

Mas e no Brasil?

Por aqui, as redes de foodservice, sejam internacionais ou locais, ainda atuam de forma tímida na temática do “clean label” quando o assunto é comunicação com os consumidores. Pesquisas com consumidores neste campo são praticamente inexistentes, tanto para entender os anseios e necessidades específicas dos consumidores sobre a qualidade dos alimentos atuais, quanto as percepções de entendimento e valor frente a ações em “clean label”.

Há que se enfatizar que existem sim importantes ações de muitas redes e vários empreendedores independentes que se preocupam em adquirir insumos sob especificação, e muitas vezes com uma “lista longa” de insumos proibidos, preocupados com o “clean label” e a origem de seus produtos. Especialmente no setor do foodservice, que é bastante multifacetado, sentimos falta de um posicionamento mais educativo e efetivo em toda a cadeia de suprimentos.

Acreditamos que de uma maneira mais abrangente, mesmo que tardiamente, esse movimento chegará no Brasil. Talvez com outra nomenclatura, e contamos que a nossa indústria esteja preparada para atender o mercado do foodservice. Da mesma forma, esperamos que os consumidores percebam valor nestas ações, prestigiem as marcas que usarem de transparência e autenticidade, pois sabemos que este caminho é um dos passos importantes na melhoria da qualidade dos alimentos.