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Liderar com intenção: o que o FOLGA nos ensinou sobre gestão com propósito

Por Luisa Varella

 

Nem toda pausa na rotina deve ser encarada com silêncio. Algumas servem para ter um respiro e se conectar com o que realmente importa. Foi exatamente isso que o FOLGA, Fórum de Líderes na Gastronomia, promovido pelo SindRio, provocou: um espaço de troca real, de escuta ativa e de reflexões que vão além do dia a dia da operação.

No auditório do evento, a pauta era gestão. Mas não a gestão das planilhas, e sim a das pessoas. Da cultura. Dos territórios. Da coragem de errar, revisar e recomeçar.
Ali, ficou claro que liderar, hoje, é um verbo muito mais profundo do que parece.

Liderança que forma, e não apenas entrega

Na fala de abertura, Paulo Camargo, ex-CEO que liderou a transformação de marcas como McDonald’s e Arcos Dorados, trouxe uma provocação potente: ser líder não é ter todas as respostas: é abrir espaço para que novas respostas sejam construídas em conjunto.

Seis pontos-chave guiaram sua fala, e mais do que “dicas”, eles funcionaram como um convite a repensar nossos próprios padrões de atuação:

  • Não ofereça respostas prontas: o desenvolvimento real começa quando as pessoas são estimuladas a pensar por si mesmas.
  • Reconheça quem está na linha de frente: propósito precisa nascer também do reconhecimento.
  • Assuma riscos com responsabilidade: ousar é parte do jogo, especialmente em tempos de transformação.
  • Planejamento é uma forma de cuidado: agir com clareza protege o time da sobrecarga.
  • Autenticidade e vulnerabilidade são os verdadeiros pilares da confiança.
  • Baixa performance não deve ser tolerada — porque também é um desrespeito com quem entrega o seu melhor.

Mas talvez o ponto mais marcante tenha sido o mais simples: “Lidere como se as pessoas que você ama estivessem te observando.”
Porque, no fundo, a liderança mais sólida é a que a gente sustenta mesmo quando ninguém está olhando.

O invisível também faz parte da entrega

Durante o evento, outra camada da liderança ficou clara: a capacidade de cuidar da experiência com sensibilidade e intenção.

A experiência não é um bônus, é parte da entrega. A escolha do som ambiente, a temperatura da luz, a forma como as pessoas circulam num salão… tudo isso comunica. Tudo isso influencia.

E mais: não é só sobre encantar o cliente. É sobre criar ambientes onde a equipe se sinta bem, segura, vista.
Liderar também é desenhar atmosferas, sejam elas físicas, emocionais ou simbólicas.

Empreender é construir vínculos – não só negócios

A fala de Eduardo Orivio, fundador do Grupo Trigo e da Investe Favela, trouxe outro ângulo: o empreendedorismo como ferramenta de impacto social.

Ao relatar sua trajetória, ele foi direto: empresas não são feitas apenas de produto e processo. São feitas, principalmente, de pessoas. E liderar, nesse contexto, é muito mais do que alcançar metas. É assumir a responsabilidade de criar caminhos de desenvolvimento real para quem está com você.

“Não vemos colaboradores como mão de obra. Vemos como pessoas.”
E isso, apesar de ser óbvio, ainda precisa ser dito, lembrado e praticado todos os dias.

Liderar com sotaque, com raiz, com verdade

Liderar a partir do território é mais do que valorizar ingredientes locais: é construir identidade, respeitar os tempos e dar forma a uma cultura que faz sentido para quem está dentro e fora da operação.

A inovação não precisa vir só dos grandes centros. Muitas vezes, a melhor liderança nasce do chão onde se pisa. E ela não precisa ser complexa: precisa ser coerente.

Coerente com quem você é. Com o que você acredita. Com a história que você quer contar.

E agora?

O FOLGA não foi sobre trazer soluções prontas. Foi sobre abrir espaço para perguntas mais relevantes:

  • Que tipo de cultura minha liderança está construindo?
  • Como estou incentivando a autonomia no meu time?
  • O que a experiência do meu negócio comunica, mesmo quando eu não estou presente?
  • Estou liderando para resolver hoje ou para desenvolver o amanhã?
  • Como meu negócio pode ser um espaço de crescimento para quem está comigo?

Essas perguntas talvez não tenham respostas imediatas, e tudo bem, trabalhamos diariamente para achar a resposta. O mais importante é não fingir que elas não existem. Lembre-se que quando a gente lidera no automático, é fácil perder de vista o que realmente importa.

Para fechar: e se você liderasse como quem projeta o futuro?

Liderar não é sobre controle, nem sobre títulos. É sobre gerar movimento. Cultivar cultura. Estar presente, mesmo quando se erra.

O que o FOLGA nos lembrou é que a gestão que transforma é feita por pessoas que escolhem, todos os dias, criar um ambiente onde outras pessoas também possam crescer.

Então, que essa pausa tenha servido não só para respirar — mas para enxergar com mais clareza. O mundo está em constante mudança e, claro que o Foodservice também. A forma de liderar precisa acompanhar.

Talvez a pergunta mais urgente seja: que tipo de líder você está escolhendo ser e o que você está ensinando com essa escolha?