O Futuro do Foodservice
Simone Galante,
Fundadora da Galunion
Quando penso no futuro do Foodservice, a primeira questão que surge em minha mente é: bem, vou escrever sobre o futuro a partir do presente, para isso é necessário ampliar a visão, e estimular a criatividade. Nada melhor para a criatividade do que a diversidade de opiniões. Então, você leitor verá aqui não só a minha visão positiva de alguns pontos essenciais para o futuro, mas também o depoimento de outras 5 mulheres do segmento do foodservice que vão nos deixar mensagens preciosas e complementar este cenário.
Começo então com a visão de tratarmos o futuro do foodservice como sendo o resultado da convergência de várias ações deste mercado na superação dos seus desafios mais prementes. E na Galunion, empresa que fundei 11 anos atrás e é focada em soluções para o foodservice, já em meados de 2019 elencamos os 6 principais desafios de quem trabalha com alimentação:
- Seu negócio ser desejado e encontrado
- Sua marca ter e viver um propósito
- Ter uma oferta culinária relevante para seu consumidor
- Reconhecer a importância do tempo e das novas ocasiões de consumo
- Saber gerir com dados e algoritmos
- Gerar experiências significativas
1. Seu negócio ser desejado e encontrado
No futuro, as marcas saberão se comunicar com seus consumidores tanto pelos canais digitais como presencialmente. Aliás, tudo estará absolutamente integrado. Os mecanismos de busca, os assistentes virtuais, super apps (grandes plataformas onde você compra de tudo) deixarão tudo mais evidente, porém ao mesmo tempo a luta por relevância será ainda mais acirrada. Os restaurantes virtuais, sem “ponto físico”, serão cada vez mais comuns, atuando tanto em conveniência como em nichos de mercado. Haverá uma grande mescla de canais: o foodservice no varejo alimentar, o varejo alimentar oferecendo cada vez mais alimentos preparados fora do lar.
Um negócio desejado e de fácil acesso aos consumidores costuma também ser desejado por investidores e parceiros de mercado. Alimentação é um setor de alta recorrência: as pessoas comem, em geral, várias vezes por dia. Veremos cada vez mais uma invasão de empresas “start-ups e unicórnios”, e seus investidores, ávidos por este mercado. A competição será dura e exigirá que os negócios aprimorem seus elementos de diferenciação a todo momento.
2. Sua marca ter e viver um propósito
Os negócios compreenderão a importância da marca como reveladora da sua identidade. As marcas de maior sucesso serão as que possuírem um propósito claro, e mais do que ter este conjunto de “porque existimos”, revelarem em suas atitudes do cotidiano o que fazem para realmente tornar este próposito algo presente no dia a dia das pessoas com quem a marca se relaciona. Não será a propaganda por si, e muito mais o impacto que aquela marca é capaz de gerar nas pessoas e na comunidade em que estão inseridas. Veremos marcas onde seus consumidores atuarão como voluntários. Veremos marcas ousadas que defenderão causas acima de tudo. Veremos marcas focadas na simplicidade, outras no luxo. Elas refletirão claramente o estilo de vida que representam. Não haverá o “totalmente certo ou errado”, mas sim grandes escolhas de onde atuar… mas as marcas terão que gerar algum valor para se manterem vivas, ou seja, entregando uma percepção de qualidade e serviço que valha o quanto custa. Sim, acredito que sempre haverá o jogo do melhor preço. E se ele for sustentado por produtividade e valores empresariais adequados, será uma concorrência importante para as refeições sustentadas por conveniência.
3. Ter uma oferta culinária relevante para o seu consumidor
Os empresários e artistas do ramo – sim, há muito de arte na gastronomia – não neglicenciarão o poder do sabor e da imagem dos alimentos. As preferências de sabores serão conhecidas, seus nichos de consumidores, e os lançamentos de produtos serão cada vez mais sujeitos ao sucesso. A neurociência será aplicada para a montagem das vitrines, cardápios e ofertas. Tudo que é fresco e natural será valorizado, e as fazendas urbanas trarão uma variedade de vegetais nunca antes vista na culinária. Junto com o resgate de cozinhar em casa virá algo digitalmente integrado: as experiências de compra para ter itens pré-preparados, roteiros facilitados e equipamentos inteligentes. Mas os restaurantes se destacarão pela capacidade de entregar algo que não se consegue fazer sozinho em casa, ou até mais trabalhoso e engenhoso: técnicas culinárias, sabores inusitados, cores e muitas outras novidades. A inovação ganhará uma velocidade espetacular, e na parte nutricional será capaz de indicar dietas personalizadas de acordo com sua genética, metabolismo e estilo de vida. Mas, e a culinária caseira do dia a dia, básica? Continuará existindo, descentralizada, com diferentes Hubs de atendimento, para quem não quiser fazê-la em casa em seu dia a dia.
4. Reconhecer a importância do Tempo e das Novas Ocasiões de Consumo
Em alguns setores, a premência de tempo continuará a revelar uma alta necessidade por conveniência, e as novas ocasiões de consumo como as que demandam delivery serão realidade para todos. O consumidor será atendido onde desejar, e o desafio da entrega, da “última milha” será alvo de surgimento de vários novos negócios em nosso setor. Será descoberta com mais clareza a importância da área de logística, geolocalização e novos meios de transportes, como os drones ou soluções de microhubs e compartilhamento de locais de pontos avançados de distribuição. A dimensão do tempo, a nova moeda mais preciosa para o ser humano, também será alvo de reflexão para momentos em que o consumidor deseja relaxar, deseja desfrutar do momento. Negócios de entretenimento e modelos flexíveis surgirão a partir de diferentes ocasiões de consumo, principalmente no setor de eventos virtuais.
5. Saber gerir com dados e algoritmos
Todos começam a aprender a necessidade de coleta de dados, mas dar significado aos mesmos passa a ser um desafio de gestão. A experiência das pessoas para programar matrizes de decisão será valorizada, e novos sistemas de Inteligência do Negócio surgirão. A coopetição (colaboração entre competidores) gerará uma enormidade de dados para que os cenários se completem, e quem souber ler estes dados será o verdadeiro “dono do ouro”. A aquisição de clientes demandará novos indicadores para a gestão de vendas e marketing, o uso da inteligência preditiva será acelerada. Finalmente estes dados também serão tratados em toda a cadeia de abastecimento, diminuindo desperdícios e gerando maior transparência na aquisição dos insumos. Técnicas de aproveitamento de insumos e receitas surgirão de maneira mais acessível, principalmente para os empresários que compreenderam a necessidade de investimento em tecnologia e cientistas. A integração de dados chegará deste os insumos e equipamentos até o capricho do serviço, tornando as operações mais controláveis. Toda esta ciência será ofertada como serviço em grandes hubs para instalação de restaurantes virtuais, e novos empreendedores selecionados pelos hubs entrarão no setor. Isso vai gerar uma barreira de entrada nunca vista no segmento de alimentação, deixando à margem os pequenos negócios e informais, que serão amparados por associações, instituições e fornecedores de alimentos, que farão seu resgate através de uma nova oferta de serviços e capacitação, para diminuir os gaps gerados.
6. Gerar experiências significativas
Cada vez mais, os negócios que conseguirem gerar experiências significativas estarão mais evidentes e sustentadas para sobreviverem no longo prazo. Gerar experiências realmente significativas está relacionado a fazer as pessoas ao seu redor se sentirem melhor. Todas as pessoas: seus clientes, seu time de colaboradores, seus parceiros, você.
No futuro, cada vez mais se saberá acerca da ciência da experiência, que será decomposta- por exemplo – pelas imagens, sensações, pensamentos, percepções, sentimentos e memórias geradas.
Acredito muito nas novas jornadas com menos atrito no nosso mundo da alimentação, e também na manutenção do elemento humano nas experiências gastronômicas e de entretenimento. O que é considerado “chato e incômodo”será trocado por automação, e o “divertido e especial” continuará sendo realizado por pessoas, com a ajuda da tecnologia, sem dúvida! Afinal, usamos tecnologia na alimentação há anos, nas técnicas culinárias, no uso do fogo. Mas há muitas novas habilidades para aprendermos!
Finalizo aqui desejando a todas que pratiquem este exercício dos 6 desafios em seus negócios, e tracem caminhos de futuro. Usem seu espírito crítico, sua criatividade, seu poder de comunicação e colaboração. Estou certa que o futuro é mais feminino, e que podemos nos ajudar entre as mulheres na superação de todos estes desafios – e certamente muitos outros que surgirão.
Marie Molde, Account Manager and Registered Dietitian at Datassential
Enquanto muitos de nós crescemos ouvindo a frase “você é o que você come” – hoje, esse paradigma mudou, e embora (como nutricionista registrada) sempre recomendarei comer nutritivamente, estamos agora em um mundo onde “comemos o que somos”. Ao longo dos meus mais de 10 anos trabalhando em foodservice, notei que hoje mais do que nunca as pessoas estão fazendo escolhas alimentares que refletem seus próprios valores pessoais. Notavelmente, nossas escolhas de alimentos e bebidas têm o poder de refletir algo sobre quem somos como indivíduos.
Sabendo disso, uma visão importante para o futuro do foodservice é que marcas e conceitos que agradem às sensibilidades culturais e sociais dos consumidores terão uma vantagem se conseguirem comunicar efetivamente as causas que apoiam e os valores que possuem.
É claro que os valores pessoais são impactados por uma série de fatores – aspectos como idade, geografia e até mesmo nível de renda desempenham um papel. Um exemplo oportuno é que as gerações hoje se preocupam profundamente com a saúde e o futuro do nosso planeta, e a conversa sobre o clima está mudando de combustíveis fósseis para alimentos – então tendências como comer produtos à base de plantas estão ganhando velocidade.
De acordo com a pesquisa Datassential, as gerações mais jovens dizem que os aspectos ambientais são a principal consideração que os faria escolher um lugar para comer uma refeição longe de casa em vez de outro, o que significa que restaurantes e operadores de foodservice que podem efetivamente comunicar um foco em sustentabilidade, esforços em torno do sourcing local, ou de outra maneira, ganharão o negócio desses consumidores. Este é um exemplo entre muitos que ilustra que a comida é um meio de auto-expressão e apoio aos nossos estilos de vida e valores pessoais.
A maioria dos consumidores mostrará apoio a uma marca de alimentos, bebidas ou restaurantes que se alinhe com seus valores pessoais, demonstrando que, na indústria alimentícia, uma aliança com as causas certas é uma coisa poderosa.
Renata Boock F Rouchou, Diretoria Expansão e Operações Casa Bauducco
“O futuro do food service é fhigital. A integração das lojas físicas mais o digital , sendo que cada vez mais teremos apps, plataformas, marketplaces, pedidos pelo Google….. e todos os serviços integrados de forma holística.
Inovação tecnológica, aliada a experiência de consumo e novas tendências de alimentação vão estar em constante transformação em um mundo cada vez mais VUCA.”
Camille Lau, Gerente de Marketing Brasil da Unilever Food Solutions
“Em tempos desafiadores como o que estamos vivendo residem excelentes oportunidades para inovar e fazer a diferença. Use a crise como uma oportunidade para e reinventar e trabalhe de uma maneira colaborativa com todos os elos da cadeia onde você estiver inserida.
Não tenha medo de assumir riscos calculados e mantenha a humildade para aprender rápido como melhorar a cada dia. Ofereça aconselhamento e crie espaços de troca para que você e outras mulheres se beneficiem do compartilhamento de experiências. Assuma um papel protagonista na criação das oportunidades que farão a diferença na “nova realidade”.
Luciana Mello, Fundadora e CEO Café Cultura
“A pós-pandemia vai trazer um novo consumidor. O café como ponto de encontro vai seguir existindo, mas a cabeça do cliente estará diferente. A saudabilidade estará em pauta, cada vez com mais força. As pessoas aprenderam a cozinhar nesta pandemia e estão mais exigentes. Não querem mais o trivial. É o homemade. Além disso, tendências como o touchless serão uma realidade. É menos atrito e mais agilidade na jornada do cliente dentro da loja. O delivery, no faturamento e marketing, ganha papel importante: além de incrementar as vendas, é uma oportunidade de potencializar o ticket médio com combos e produtos sazonais, por exemplo, e levar a marca para dentro da casa do consumidor. Isso fideliza.
E, para finalizar, o take away, quem vem no embalo da omnicanalidade – sendo a loja
muito mais do que destino do consumidor – é a realidade de um mundo moderno e dinâmico.
As pessoas não querem mais barreiras.”
Mariana Cerone, Head Consumer & Innovation na Sodexo Beneficios.
“Na minha opinião, o futuro do FoodService envolve tecnologia e estratégias centradas no cliente. A tecnologia está se tornando mais arraigada na indústria de serviços de alimentação, transformando conceitos, operações e a experiência do cliente para ocasiões dentro e fora do estabelecimento.
Além disso, também está evoluindo rapidamente, obrigando as marcas a inovar constantemente as tecnologias existentes e / ou implementar novas tecnologias. Agora, mais do que nunca, também é importante enfatizar e incentivar o envolvimento do cliente com sua marca. Acredito que uma estratégia com foco centrado no consumidor pode muito bem ser a chave para FoodService. Gamificação, conteúdo gerado pelo usuário e elementos interativos são alguns exemplos que podem ser usados para fazer com que os clientes se envolvam com sua marca.”
Simone Galante é fundadora da Galunion e possui mais de 20 anos no setor de foodservice. O artigo foi construído para fomentar a liderança feminina no foodservice e da rede Women on Food, gerando impacto positivo no setor!